Dia das mulheres: uma linha do tempo do corpo feminino na moda

No dia 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher, uma data simbólica criada para evocar a luta feminina por direitos fundamentais ao longo dos anos. Como a moda também é instrumento político e reflexo da sociedade ao seu redor, trouxemos uma linha do tempo da libertação – ou não – do corpo feminino ao decorrer da história, através das roupas.

 

Nasce a moda, e o sexismo também

A maior parte dos estudiosos de história da moda considera o “nascimento” da moda como o momento em que se cria uma diferenciação entre as roupas femininas e masculinas, por volta do século XV. Aqui, as vestes masculinas se tornam curtas, enquanto as femininas permanecem longas. Assim, junto com a moda, nasce também o padrão que se repetirá ainda por muitos séculos: roupas que conferem mais liberdade aos homens, e que prendem o corpo da mulher.

A partir da Revolução Francesa, quando a burguesia ditava os códigos sociais, a vestimenta masculina era funcional e confortável, enquanto a das mulheres chegavam a limitar seus movimentos. Espartilhos, corsets, crinolinas e saias extremamente volumosas submetiam a mulher a uma posição de frivolidade e ociosidade, não sendo permitidas a trabalhar ou participar da vida social.

 

Chega a liberdade, mas só da cintura para cima

O primeiro a ousar atacar os códigos e o decoro burguês é Paul Poiret, costureiro considerado um dos primeiros estilistas da história. O francês passa a criar para suas clientes peças sem anáguas ou espartilhos, ou quaisquer acessórios que as travasse fisicamente. “Elimina […] essa herança aristocrática de entrave ostentatório unicamente a elas reservada”, diz  Frédéric Monneyron sobre Poiret no livro “A moda e seus desafios”.

Poiret chega a tentar adaptar a saia ao padrão masculino, criando a “trouser skirt” (saia-calça): uma espécie de híbrido, um vestido travado no tornozelo. Porém, esse modelo se mostra pouco funcional, uma vez que volta a limitar os movimentos, permitindo a locomoção apenas em passos curtos. O costureiro chegou a declarar que “libertou as mulheres na parte de cima, mas subjugou-as na parte de baixo”.

 

As tentativas de fazer a calça acontecer

As calças são sem dúvida uma das peças mais funcionais e confortáveis do guarda-roupa de qualquer pessoa, mas antes o uso delas era limitado somente aos homens. Uma das primeiras tentativas de inserção do item no vestuário feminio foi a calça Bloomer, que acabou sendo utilizada para a prática de ciclismo, mas não emplacou muita popularidade. Com a chegada da Primeira Guerra Mundial, as mulheres tiveram de passar a ocupar ambientes de trabalho, antes exclusivamente masculinos,  e com isso seus trajes tiveram a necessidade de se tornarem mais funcionais. O comprimento das saias diminuiu, e as calças começaram a ser mais usadas.

Quem viria a ter sucesso em popularizar a calça de vez no guarda roupa feminino, conseguindo atribuir a ela conceitos de feminilidade e delicadeza foi Coco Chanel. Inspirada nos trajes de marinheiros, as calças de Chanel se popularizaram entre atrizes e grandes nomes de Hollywood.

 

Pernas livres – e à mostra!

Como mencionamos anteriormente, a moda é reflexo dos acontecimentos da sociedade ao seu redor. Assim, na década de 60, a efervescência cultural e política liderada pelas gerações jovens levou as calças a se popularizarem cada vez mais, e as saias a encurtarem cada vez mais.

Surge, assim, a febre da minissaia. Sua criação é atribuída ao estilista Andrè Courréges, mas foi a britânica Mary Quant a responsável pela grande popularização da peça. 

 

Dress to impress

Os anos 80 trouxeram uma nova era para a mulher, que agora trabalhava lado a lado com os homens, tendo maiores oportunidades de se impor e conquistar seu espaço profissional. Assim, nasce a tendência do Power Dressing: alfaiataria de ombros largos e modelagem imponente. Pela primeira vez na história, a mulher estava vestida para liderar.

 

Millennials vs Gen Z: a batalha do século

Os anos 90 – e até os 2000 – foram marcados por um padrão de beleza em que a magreza extrema era adorada e reverenciada. A partir dos anos 2010, essa cultura passou a ser questionada e criticada, principalmente pelas novas gerações, que trouxeram uma nova abordagem à maneira de consumir moda. O culto ao corpo magro ideal passou a ser substituído pelo incentivo ao amor ao corpo real. 

Hoje, o movimento pelo corpo livre ganha cada vez mais força, e muitos artistas e designers trabalham esse conceito em suas criações. Algumas tendências recentes também trazem peças que antes aprisionavam o corpo feminino, como o corset, porém ressignificados de maneira a simbolizar empoderamento feminino.

 

O corpo feminino está longe de ser completamente livre. Porém, o dia de hoje serve para lembrarmos as mulheres que lutaram para que tivéssemos a liberdade que hoje temos. Um feliz dia das mulheres para todas aquelas que resistiram, e a todas as que hoje persistem.

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