A vida rosa choque de Elsa Schiaparelli, a surreal artista da moda

Hoje se completam 48 anos da morte de um dos maiores nomes da moda: Elsa Schiaparelli. Sua criatividade e ousadia marcaram a história da moda, e a grife que leva seu nome não poderia estar em melhor momento. Conheça mais sobre a história e carreira dessa artista brilhante. 

 

Nascida em 1890, em Roma, Elsa Schiaparelli cresceu em uma família de aristocratas e intelectuais. Com tantas referências dentro de casa, Elsa sempre foi interessada por história, mitologia e religião. Apesar do sonho de se tornar atriz, estudou filosofia, por influência dos pais eruditos. Aos 21, publicou uma coleção de poemas explicitamente sexuais, o que levou seus pais a enviarem a ‘rebelde’ para um convento, de onde ela sairia após uma greve de fome.

Em 1913, mudou-se para Londres com uma amiga de sua irmã, onde conheceu o conde teosofista Wilhelm Wendt de Kerlor, por quem se apaixonou e com quem se casou no ano seguinte. Em 1916, o casal se mudou para Nova York e, no navio que os levou, Elsa conheceu Gabrielle Picabia, mulher do pintor dadaísta Francis Picabia. Este encontro  introduziria Elsa no círculo dos artistas de vanguarda da época.

Em 1920 nasceu a filha do casal, Gogo, que logo contraiu poliomielite. As dificuldades com dinheiro e com o tratamento da filha levaram Elsa a pedir o divórcio e a se mudar, em 1922, para Paris, para cuidar de Gogo. Lá, ela trabalhava em um antiquário durante o dia, e à noite frequentava o famoso restaurante Le Boeuf sur le Toit, aumentando seu círculo de amizade com artistas.

O contato com a moda começou quando acompanhou uma amiga ao ateliê de Paul Poiret, o maior estilista e couturier da época. Elsa experimentou alguns modelos do designer, mesmo sem ter condições de comprá-los, e Poiret, encantado por seu estilo e personalidade excêntricos – que se mostrariam boas propagandas para suas roupas – sugeriu emprestar alguns deles. 

Em meados de 1920, Elsa começou a trabalhar como designer freelancer. Pouco tempo depois, lançou um pulôver tricotado à mão, com um laço de ilusão de ótica no pescoço, que foi considerado uma obra-prima pela Vogue e virou uma sensação em poucos meses. Em 1927, fundou sua empresa em seu apartamento, mas foi no ano seguinte que ela realmente decolou, abrindo a “Schiaparelli – Sportswear”.

A partir de 1929, Schiaparelli começou a apresentar inovações em termos de materiais, cortes, detalhes e acessórios. Passou a pesquisar e desenvolver novos tecidos para atender às suas próprias necessidades. Também começou a fazer parcerias com artistas, podendo pôr em prática toda a sua brilhante e excêntrica criatividade. 

Elsa ganhou tanta popularidade que em 1934 se tornou a primeira estilista mulher a ser capa da revista americana Times. Suas criações, feitas para mulheres de personalidade forte – assim como a própria Elsa – atraíram clientes famosas, como Marlene Dietrich, Katharine Hepburn, Greta Garbo, Lauren Bacall, entre outras.

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Elsa gostava de trabalhar os paradoxos da complementaridade em suas criações, inspirando-se no ordinário e no precioso, na arte e na vida cotidiana. Foi a primeira a dar temas às suas coleções. Em 1930, vieram suas mais famosas colaborações: Salvador Dali e Jean Cocteau, dando ainda mais vida ao seu espírito artístico e surrealista. Em 1937, lançou o perfume Shocking, e um pigmento próprio, a cor Shocking Pink (o rosa choque).

Foi então que chegou a Segunda Guerra Mundial, e Elsa passou a criar roupas mais práticas e confortáveis. Ela partiu para os Estados Unidos, dando uma série de palestras, e, mesmo após ser oferecida o cargo de diretora do departamento de design de moda do MoMA, voltou para Paris, para ajudar o movimento de libertação da França. Quando o status de italiana em Paris passou a ser arriscado, Elsa voltou para Nova York, mas continuou ajudando o movimento, mesmo à distância, e retornou a Paris assim que a França foi libertada, em 1945.

Em 1949, Elsa lançou uma coleção mesmo em meio a greves que paralisaram parte de seus ateliês. A coleção não estava pronta, e era possível ver nas peças alfinetes e amostras de tecido. Mesmo assim, seu estilo e ousadia levaram a coleção a ser considerada impressionante. 

Apesar de todo o sucesso e boas vendas, Schiaparelli decidiu encerrar as atividades da grife em 1954, e dedicar-se a escrever sua autobiografia, “Shocking Life”. Elsa morreu em 13 de novembro de 1973, mas seu espírito artístico, sua criatividade excêntrica e sua ousadia brilhante continuam a inspirar o mundo da moda e da arte até hoje.

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A grife permaneceu fechada até  2012, quando o proprietário da marca de artigos de couro Tod’s, Diego Della Valle, a relançou em grande estilo, sendo tema do Met Gala daquele ano, com uma exposição dedicada a Elsa no museu. Um pouco mais tarde, em 2014, a Schiaparelli voltou a desfilar na semana de alta costura de Paris.

A partir de 2019, quem passou a assinar as coleções da marca foi o designer americano Daniel Roseberry, que consegue seguir perfeitamente a essência da grife – e da própria Elsa – de experimentações e inovações. Roseberry faz um trabalho brilhante ao ponto de revolucionar não só a marca, mas a própria alta costura. E é com ele que o legado de Elsa Schiaparelli segue vivo e forte, continuando a inspirar artistas e designers até hoje.

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